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O Mistério Divino é Amor

O Mistério Divino - Amor- Diversidade e Inclusão

                 Na Igreja Católica, hoje é a festa da Santíssima Trindade. Hoje, Deus nos chama a sermos capazes de expressar a nossa fé a partir de nossas culturas e de nossa realidade e não ficarmos presos a elaborações teológicas que vieram do Cristianismo ligado ao antigo Império Romano, na época em que os Concílios eram convocados pelo imperador e os dogmas eram formulados nos palácios. Cada vez mais, compreendemos que o Mistério Divino é Amor Inefável e não pode ser descrito em palavras humanas. Na Idade Média, o Mestre Echkart, um dos maiores místicos cristãos do Ocidente, afirmava: “Tudo o que você faz e pensa sobre Deus, é mais você do que ele. Se você absolutiza as fórmulas que usa para falar de Deus, está blasfemando. De fato, o que Deus é, nem todos os mestres de Paris conseguem dizer. Se eu tivesse um Deus que pudesse ser compreendido por mim, não gostaria nunca de reconhecê-lo como meu Deus. Por isso, cale-se e não especule sobre ele. Não lhe ponha roupas de atributos e propriedades. Aceite-o “sem ser propriedade sua”.

                Quando a fé na Santíssima Trindade leva pessoas como o irmão Henrique da Trindade em Salvador, BA, a junto com um grupo de voluntários/as irem morar nas ruínas da antiga Igreja da Trindade e fazer daquele espaço um lugar de acolhida e amor para os/as sofredores/as de rua, então, sim, a devoção à Terna Trindade, como chamam, se torna algo que fala bem de Deus. A Terna Trindade é a tradução melhor que encontrei deste dogma. 

                 Independentemente do dogma cristão, várias expressões religiosas adoram Deus como mistério de unidade e, ao mesmo tempo, de diversidade. Uma sacerdotisa do Candomblé comparava o mistério divino com a água. Quimicamente, a água é uma só (H2O), mas na realidade se diversifica. A água do rio não é a mesma do mar. A água do copo não é a mesma da chuva. Hoje, compreendemos que somos imagem e semelhança de Deus, porque somos chamados à comunhão e ao amor, dimensões do próprio ser de Deus. 

Os evangelhos mostram Jesus como filho amado de Deus que nos revela o Mistério Divino como Pai que nos dá o seu sopro de vida. Em nós o seu Espírito nos move a transformar este mundo. 

O texto do evangelho lido hoje nas comunidades (Mateus 28, 16 – 20)  é o final do relato de Mateus e contém três elementos importantes: 1º - uma revelação nova, 2º - o envio em missão e 3º - uma promessa.

Os onze discípulos – voltam para a Galileia – a região de onde tinham vindo. Era o mundo dos mais pobres, onde a missão de Jesus tinha começado. No monte da Galileia, Jesus fez o seu primeiro discurso e nos deu as bem-aventuranças. Agora, é ali que o Ressuscitado se revela e os envia.

O texto de Mateus fala dos onze. No entanto, no capítulo anterior, tinha se referido às mulheres que seguiam Jesus até a cruz. No início deste capítulo 28, o Anjo da ressurreição se manifesta a elas e o próprio Jesus as envia aos discípulos para irem à Galileia. Certamente elas foram junto e ali estavam as mulheres discípulas além dos onze.

O evangelho diz que apesar de terem ido ao monte ao encontro do Cristo Ressuscitado, os discípulos duvidavam. Duvidavam de que? De quem? Se duvidavam, por que, então, foram? Por que estavam ali? 

Com suas dúvidas, provavelmente aquele pequeno grupo representava a comunidade de Mateus nos anos 80, dividida com muitas dúvidas e fragilidade. Esses discípulos podem também ser figura de cada um/uma de nós e de nossas comunidades. Nós também vivemos esta experiência de crer e, ao mesmo tempo, duvidar. 

Jesus não se detém sobre as dúvidas dos discípulos ou sobre as nossas indecisões. A fé não se opõe às dúvidas e sim à indiferença e à frieza. Dúvidas, a gente pode ter. O importante é que o evangelho chama a comunidade para voltar às bases e escutar de novo Jesus ressuscitado. 

1 - Jesus lhes faz a revelação: Toda autoridade (exousia) me foi dada (pelo Pai). O termo grego é diferente de poder (doxa). Autoridade é algo mais interno e inerente à pessoa. Um médico tem autoridade em matéria de saúde.  Um militar tem poder. Uma mãe tem autoridade. É em função da autoridade que vem o chamado ao compromisso: “Então, se é assim, vão....”.

2 – O envio em missão. Quem de nós escutou essa palavra de compromisso? No mundo atual, emprego compromete profissionalmente. Entretanto, no plano social e espiritual, muitas pessoas participam de grupos. Pertencem a coletivos... Dão o seu nome, mas quase sempre, as pessoas dizem: “sou do grupo na medida do possível, ou seja, quando quero ou quando sentir necessidade”...

O tipo de envio que Jesus deu aos discípulos exige compromisso.  Vão fazer discípulos e discípulas em todas as nações... Há quem entenda isso como missão religiosa. É importante repetir: Jesus não fundou religião. Nem o projeto divino é Igreja. A Igreja tem sentido se se colocar como instrumento deste projeto maior: o reinado divino no mundo. Isso significa tornar o mundo uma terra de amor compassivo, justiça solidária, libertação de todos/as e cuidado universal. 

Quando Jesus fala em batizar, as pessoas logo imaginam a pia de água benta ou o rio onde padre ou pastor batiza. O termo grego batizar significa mergulhar. Jesus está propondo mais do que um rito. Jesus manda discípulos e discípulas mergulharem as pessoas de todas as nações e culturas no projeto do reino de Deus que ele tinha ensinado e trazido para o mundo. “Ensinai-lhes a observar tudo o que vos tenho mandado”. Nestes dias, o evangelho de João que ouvimos nestes domingos anteriores nos dizia: O que lhes mando é que se amem uns aos outros, como eu amo vocês”. Este é o envio e aí vem a promessa. 

3 – A promessa

Estou com vocês todos os dias até o fim dos tempos” O evangelho começa com o Anjo dizendo a José: O menino que vai nascer se chamará Emanuel, que significa Deus conosco.  Agora a última frase é Estou com vocês todos os dias. Através do Espírito, estou em vocês. Em toda a Bíblia, Deus nunca aceitou se definir. Desde o Êxodo, sempre se apresentou como “Quem eu serei com vocês mostrará a vocês quem sou Eu”. É essa presença amorosa que temos de viver para nós e testemunhar ao mundo.  

 

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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