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Conversa, terça feira de Páscoa, 07 de abril 2015

Em um mundo secularizado, laico e que perdeu toda referência profunda à cultura religiosa (e eu não sou contra isso), é claro que falar de 3a feira da Páscoa não significa nada. Hoje em dia, a Páscoa é apenas um feriado a mais para o pessoal poder descansar ou viajar tranquilo com a família. Em uma sociedade pluralista (na qual cada um tem a religião que quiser, ou nenhuma), isso é normal. Mas, para mim, cristão, esses dias são sim de festa interior e de celebração profunda de minha esperança em um mundo novo e em uma sociedade de justiça e paz.

Na oração dessa manhã, retomo o caminho de Maria Madalena na madrugada do domingo, no jardim da sepultura de Jesus (Jo 20, 11 - 18). Procuro reconhecê-lo vivo no meio de nós através de sua palavra e de suas testemunhas. E, por cima de todas as evidências de um mundo que se desagrega, canto a alegria de uma nova criação que se inicia pela ressurreição de Jesus.

Hoje, reparto com vocês um poema que um amigo meu, italiano, escreveu para essa Páscoa e eu traduzi adaptando um pouco:  O vento, o sopro e o Espírito

Marco Campedegli

O vento falou ao sopro:

As montanhas, eu transporto,

Mas gostaria de estar contigo,

que, da boca de uma mulher.

Sais como uma flor.

Ao desejo, o sopro falou:

Sim, broto como uma flor,

Mas somente se estás ali,

Pois, assim, alguém me desejou.  

Então, o desejo disse à alma:

Eu só existo naquela hora

Em que uma alma na outra se espelha

e, como no mar, ela se enamora.

À respiração a alma sussurrou:

Se não fosses tu,

Ou seja, se não existisses,

nem viva eu me sentiria.

A respiração à brisa revelou:

No verão, o pôr de sol é teu canto,

Quando os pés das crianças acaricias

e enxugas as lágrimas dos migrantes.

  A brisa correu até o ar e lhe falou:

 Sou parte de ti, eu sei.

És minha origem, meu destino certo,

Sempre pura sejas e de beleza plena,

por toda a imensidão do universo.

O ar acordou a água e lhe falou:

Revelo-te segredos no silêncio da noite,

Ao embalar tuas ondas e te ninar.

A água olhou a lua e lhe cochichou:

Quando te refletes em mim,

Enches o mundo de teu esplendor.

 E a lua disse ao sonho:

És a minha casa, meu refúgio protetor,

Eu sou a lua, com quem, a cada noite, alguém sonha,

E na casa do pobre, sirvo de cobertor.

O sonho, então, ao Espírito conclamou:

Tu és o sopro, o desejo, és a alma e a respiração.

És a beleza, água corrente,

A lua que brilha no céu: Espírito de Ressurreição.  

 

Um carinhoso abraço de ressurreição do seu irmão Marcelo 

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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