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Conversa, terça feira, 09 de outubro 2012

O Concílio Vaticano II, 50 anos depois.... 2a reflexão. 

Um dos textos mais queridos que guardo na memória do nosso mestre Dom Hélder Câmara é a carta que em 1981 ele enviou ao amigo dele, Jerónimo Podestà, bispo argentino casado com Clélia Lurio. Nessa carta, Dom Hélder dizia que tinha três sonhos: o primeiro era ainda em vida ver a humanidade se comunicar com seres de outros planetas (ele pensava em um universo sempre maior e mais integrado). O segundo sonho era a integração latino-americana que hoje chamamos de bolivarianismo e que devemos muito a Hugo Chávez e aos venezuelanos. O terceiro sonho era a de  que a Igreja entrasse em um novo concílio que Dom Hélder chamava de "Jerusalém 2o", não pensando que deveria ser em Jerusalém (o lugar pouco importava), mas porque retomava o espírito e o sentido do encontro que a tradição guardou como sendo a do primeiro concilio de Jerusalém, ainda no tempo dos apóstolos. Essa reunião contada no capítulo 15 do livro dos Atos dos Apóstolos seria a inspiração para esse concílio atual. Naquela reunião dos primeiros cristãos a comunidade tratou de dois assuntos que de outro modo permanece muito atual: 

1o - a raiz judaica da fé cristã e 

2o - a inserção da Igreja em uma nova cultura. 

A raiz judaica da fé cristã hoje significa retomarmos o Jesus histórico e os fundamentos mais bíblicos da fé. Isso ajudaria a purificar a Igreja de muita poeira acumulada pelos séculos e renová-la em uma verdadeira volta às fontes, como queria o papa João XXIII quando convocou o Concílio Vaticano II em 1959. 

A inserção da Igreja em uma nova cultura naquele tempo dos começos do Cristianismo foi a cultura greco-romana do Império. A Igreja vinda de uma cultura semita foi capaz de se inculturar e se inserir na nova cultura. Paulo foi o grande artífice dessa passagem que foi muito feliz e importante. 

Hoje esse espírito nos deveria levar à desocidentalizar a Igreja. Temos de ser capazes de descobrir um rosto próprio para um cristianismo afro, indígena, mulato, asiático e assim por diante... 

Quando participo de algumas celebrações de hoje e ouço o celebrante cantar o evangelho ou prefácio em português mas em tom gregoriano, como se estivesse cantando em latim, fico triste... Além de forçado, é artificial e algumas vezes chega a ser ridículo. Além do fato de que o evangelho foi escrito para ser proclamado e meditado, mas não para ser cantado (não é um hino ou cântico). 

Isso parece um detalhe, mas é um sinal. Nesse aniversário dos 50 anos do Concílio esse sonho de Dom Hélder ainda parece longínquo e pouco exequível, mas ao menos nas bases e em grupos pequenos, poderíamos sim fazer um novo concílio Jerusalém 2o. 

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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