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Conversa, terça feira, 02 de junho 2015

Hoje, fui convidado por uma equipe de cinema que está fazendo um filme sobre Dom Timóteo Anastácio, monge que nos anos 70 foi abade beneditino do mosteiro da Bahia e faleceu em 1994. Dom Timóteo teve uma influência cultural e religiosa imensa em Salvador. Como tive a graça de ser amigo dele (mesmo eu sendo jovem, naquela época e ele tinha idade de ser meu pai), a equipe que está fazendo o filme ("Aos meus irmãos"), me pediu para dar uma entrevista e filmar um testemunho sobre Dom Timóteo. Fui a Salvador, BA, de manhã e voltei agora no final da tarde. De um lado, gostei muito de lembrar aqueles tempos proféticos e a figura carismática de Dom Timóteo. Do outro lado, sofri, porque ao lembrar tudo o que vivemos naquele final dos anos 60 e durante os anos 70, não pude deixar de pensar: Mas, meu Deus, a história caminhou para trás? Na Igreja, as coisas regrediram? Senti-me como se as comunidades religiosas tivessem optado por entrar na máquina do tempo do professor Pardal (dos gibis de Donald e Mickey), mas não existe máquina do tempo. A história não anda para trás. Se houve retrocesso social, cultural, teológico e comunitário, fomos nós que andamos para trás. Não a história. E que vitalidade tem hoje essas comunidades que optam por viver como se fosse há dois séculos atrás e isso em nome de Jesus?  Quando alguns religiosos vão descobrir que em 1789 a sociedade ocidental fez a revolução francesa e descobriu que a monarquia não é a única forma de governo e menos ainda a mais sagrada e da vontade de Deus? Quando vão compreender que o papa, ao insistir em uma Igreja "em saída", isso que é que viva para fora e não para dentro de si mesma, está nos dizendo: uma pessoa que vive em função de si mesma é doente. Uma comunidade que vive em função de si mesma é doente. Uma Igreja mais ainda é doente e adoece os fieis.... É preciso sair. O pastor é o nômade (ou se preferir peregrino) que como diz o evangelho (João 10), abre a porta do aprisco (dos refúgios em que nos abrigamos) e chama as ovelhas para fora. Vai adiante delas. Vai na frente (não atrás, não puxado pelas ovelhas, mas as estimula indo à frente delas. O pastor deve ser mais avançado do que as ovelhas, não mais conservador) e as leva para fora do aprisco - ao mundo - ao lugar onde há pastagens. "Eu vim para que todos tenham vida e vida em abundância".

Dom Timóteo, Dom Helder e tantos outros irmãos e irmãs que naquela época deram a vida para renovar a Igreja e o mundo viveram isso. E nós? 

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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