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​Conversa, sexta feira, 19 de outubro 2012

Começo o dia de hoje fazendo a oração da manhã com minha irmã Penha. O evangelho (Lucas 12, 1- 7) recolhe várias palavras e sentenças de Jesus que provavelmente ele deve ter falado em momentos e circunstâncias diferentes e o evangelista juntou como se fizessem parte de um só discurso. "Tenham cuidado com a hipocrisia religiosa". Jesus advertia sobre a dos fariseus, os professores de Bíblia, observantes da lei que viviam uma espiritualidade muito de aparência... Hoje, isso continua sendo a tentação de todas as tradições religiosas. Eu mesmo fui educado em uma espiritualidade de posturas - quando aos 18 anos, eu entrei no mosteiro, tinha regras sobre como deveria se andar, se colocar os braços, como se deveria impostar a voz, etc... De fato, a espiritualidade deve mesmo se expressar no corpo e na postura da gente, mas é como consequência e não como causa. O risco da postura religiosa - cuidada de forma isolada e sem ser expressão de uma atitude mais interior é que acaba sendo fingida ou ao menos superficial. Na vida religiosa - das pessoas consagradas na Igreeja Católica, é muito comum essa preocupação - tudo é feito e pensado para parecer - se cuida tanto do sinal que se dá que corre o risco de esquecer o que se é verdadeiramente como fonte e base de tudo. 

Na regra beneditina, São Bento insiste que a base de tudo é a humildade (capítulo 7 da regra). A humildade é para a espiritualidade a verdade da gente mesmo - o ter os pés no humus da terra - daí a palavra humildade (vem de humus). Sou humilde quando sou eu mesmo e me aceito com tranquilidade e me deixo ver pelos outros como sou, com minhas qualidades, mas também minhas limitações. Quando no sermão da montanha, Jesus diz aos discípulos e discípulas: sejam perfeitos como o Pai do céu, essa perfeição significa simplesmente não uma regra moral, um ideal inatingível, mas procurem realizar o máximo de como Deus os fez. A perfeição para um pássaro é voar e viver plenamente sua natureza de pássaro. A perfeição para um peixe é nadar e viver realmente sua natureza. A do ser humano não é simplesmente a natureza. É o transformar-se e converter-se (daí a questão da conversão), mas para ser mais verdadeiro e inteiro naquilo que a gente é e faz. 

Amanhã, sábado, terei todo o dia de retiro com um grupo de irmãos e irmãs aqui do Recife - o retiro da partilha - a partir das 08 horas no Centro de Comunicações Sociais do Nordeste - CECOSNE no bairro da Torre. 

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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