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​Conversa, quinta feira, 08 de novembro 2012

Hoje, escrevi uma crônica sobre como vejo a política brasileira e as eleições municipais. É o olhar de um leigo no assunto, mas é o que penso:

O próximo poste

A oposição acusa Lula de tirar do bolso candidatos desconhecidos do grande público e elegê-los para os cargos mais importantes da vida pública brasileira. Ao fazer isso, dão ao povo um atestado de incompetência eleitoral. Já é velho o argumento de que o povo não sabe votar. Ao mesmo tempo, assumem a hipocrisia das velhas raposas. Como se o método de escolhas dos seus candidatos e partidos fosse mais democrático ou mais discutido pelas bases. Apesar disso tudo, há um aspecto grave em toda essa história. Lula parece assumir com certo orgulho que é capaz de eleger até postes e declara publicamente que, de poste em poste, o país acaba iluminado. O que nem ele, nem a oposição parece se dar conta é da insustentabilidade do modelo político vigente. É triste constatar que tanto a velha elite que sempre mandou no país e agora brinca de oposição como também os que ganharam a eleição com propostas transformadoras parecem muito tranquilos com o atual sistema. Lula sabe se adequar bem demais a essa velha forma de fazer política e não tem nenhum constrangimento em posar com velhos adversários e se aliar às raposas de sempre que seguem devorando o que podem encontrar no galinheiro. No Brasil, a oposição é tão classista e racista que mesmo um governo que afinal serve aos mesmos interesses mais profundos da aristocracia de sempre, é odiado e combatido pelo próprio fato de que não são eles (da elite mais tradicional) que estão no poder.  Mesmo se os novos poderosos fazem o mesmo de sempre não servem. E aí o grande problema é o seguinte. Ninguém, nem os partidos meio envergonhados por ser de direita, nem os de esquerda engomadinha tipo PT pensam minimamente em democracia de base. Como em um editorial do Le Monde Diplomatique Brasil, (nov. 2012), escreveu Silvio Caccia Bava: “Na recente campanha eleitoral, ninguém colocou o tema da democratização da gestão, da descentralização do poder, da participação cidadã, como eixo fundamental de sua campanha”, e, como dizia Odorico Paraguaçu, “por que não dizer, como objetivo maior do exercício da política”. 

Governo e oposição praticam o mesmo tipo de política, deles para eles mesmos. Usam o povo como cliente, mas não o querem como sujeito da política. Não ligam nem para as bases dos seus partidos. Elas serviram para colocá-los no poder e somente isso. Governam do modo que acham que devem e a única restrição é o legislativo que eles compram com cargos ou com o qual negociam a sem vergonhice que chegam a chamar de "governabilidade" que é meramente a liberdade de fazerem o que quiserem com a coisa pública, sem ter de dar satisfações a ninguém. 

Será que é isso que explica o número mais alto do que nunca de abstenções, votos nulos e ausências nessas eleições municipais que acabamos de viver? Se for assim, talvez isso indique que o próximo poste pode não ser escolhido. Lula não poderá se vangloriar de eleger postes. Mesmo que não tenha vergonha de afirmar esse tipo de coisa, será frustrado em sua vocação de neo-coronel da política de sempre. 

Talvez alguns sinais indiquem que o povo quer mudanças e quer sentir que só vale a pena haver governo se for para ser representante de todos e mediador da cidadania de todo o povo. 

Um aviso: amanhã vou a Correias para um encontro de teologia. Como a reunião será em uma casa do interior, não tenho certeza se poderei entrar na internet nesses dias, até domingo e se poderei escrever nessa coluna do blog antes de domingo. Seja como for, um bom final de semana para vocês que me lêem. 

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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