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Conversa, quarta feira, 27 de abril 2016

Nesses dias, vejo ocorrer no Brasil uma divisão social e política que desde os tempos da ditadura não via. E uma forte radicalização da direita que já não disfarça o seu ódio e o seu fascismo. Ontem, Inês Bueno, uma amiga, me mandou  a forte reação dela diante de um senhor que publicou na internet um insulto a Dom Helder Camara (que, pelo que compreendi, ele chamava de indivíduo pernóstico e nocivo ao Brasil). É quase difícil de acreditar que quase 20 anos depois de sua morte, Dom Helder ainda consiga suscitar reações de ódio e violência em relação à sua profecia de paz, de justiça e não violência, assim como de sua consagração aos mais pobres do mundo. Esse tipo de reação raivosa da direita me deixa triste. Por outro lado,  significa que a profecia de Dom Helder continua viva.

E eu vejo também mesmo algumas reações fortes e desencontradas, mesmo entre companheiros/as solidários aos movimentos sociais. Nesse momento, foi bom receber do jovem amigo Thiago Damato, excelente poeta, uma oração atribuída ao mártir Dom Oscar Romero, certamente outra figura considerada pernóstica pelos companheiros de Bolsonaro. Eis o texto dessa oração: 

De vez em quando ajuda-nos recuar um passo e ver de longe.

O Reino não está apenas para além dos nossos esforços,

está também para além das nossas visões.

Na nossa vida, conseguimos cumprir apenas uma pequena parte

daquele maravilhoso empreendimento que é a obra de Deus.

Nada daquilo que fazemos está completo.

Isto quer dizer que o Reino está mais além de nós mesmos.

Nenhuma afirmação diz tudo o que se pode dizer.

Nenhuma oração exprime completamente a fé.

Nenhum credo contém a perfeição.

Nenhuma visita pastoral traz consigo todas as soluções.

Nenhum programa cumpre plenamente a missão da Igreja.

Nenhuma meta ou objetivo atinge a dimensão completa.

Disto se trata:

Plantamos sementes que um dia nascerão.

Regamos sementes já plantadas,

sabendo que outros as guardarão.

Pomos as bases de algo que se desenvolverá.

Pomos o fermento que multiplicará as nossas capacidades.

Não podemos fazer tudo,

mas dá uma sensação de libertação iniciá-lo.

Dá-nos a força de fazer qualquer coisa e fazê-la bem.

Pode ficar incompleto, mas é um início, o passo de um caminho.

Uma oportunidade para que a graça de Deus entre

e faça o resto.

Pode acontecer que nunca vejamos a sua perfeição,

mas esta é a diferença entre o mestre de obras e o trabalhador.

Somos trabalhadores, não mestres de obras,

servidores, não messias.

Somos profetas de um futuro que não nos pertence.


Oração atribuída ao Bv. Oscar Romero, mártir do povo latino -americano

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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