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Textos, quarta-feira, 21 de setembro 2016

Reproduzo aqui a declaração final assinada pelo papa Francisco e pelos 500 religiosos e religiosas de diferentes tradições espirituais reunidos em Assis. A declaração foi assinada ontem no encerramento do encontro interreligioso:

Apelo em favor da Paz

Somos homens e mulheres de diferentes religiões. Como peregrinos, viemos à cidade de São Francisco. Aqui, há 30 anos, em 1986, convidados pelo papa João Paulo II, representantes de diferentes religiões vieram de todo o mundo e, pela primeira vez, se reuniram  para afirmar a profunda ligação que existe entre o grande bem da paz e uma autêntica atitude religiosa. A partir daquele evento histórico, começou a acontecer uma longa peregrinação que percorreu muitas cidades do mundo e envolveu muitos crentes no diálogo e na oração pela paz. Aquele encontro uniu sem confundir, deu vida a sólidas amizades interreligiosas e contribuiu a solucionar não poucos conflitos. Esse é o espírito que nos anima: realizar o encontro no diálogo, opor-se a toda forma de violência e abuso da religião para justificar a guerra e o terrorismo. Infelizmente, desde então, muitos povos têm sido dolorosamente feridos pela guerra. Parece que ainda não se compreendeu que a guerra só piora o mundo e deixa uma herança de dores e de ódios. Com a guerra, todos perdem, mesmo os vencedores.

Aqui dirigimos nossa prece a Deus, para que dê paz ao mundo. Reconhecemos a necessidade de orar constantemente pela paz, porque a oração protege o mundo e o ilumina. A paz é o nome de Deus. Quem invoca o nome de Deus para justificar o terrorismo, a violência e a guerra não caminha na sua estrada. A guerra em nome da religião se torna uma guerra à própria religião. Com firme convicção, repetimos: a violência e o terrorismo se opõem ao verdadeiro espírito religioso.

Colocamo-nos na escuta da voz dos pobres, das crianças e das gerações jovens, das mulheres e de tantos irmãos e irmãs que sofrem pela guerra. Juntos com eles afirmamos com toda força: Não à Guerra! Que o grito de dor de tantos inocentes não continue sendo ignorado. Aos responsáveis das nações, pedimos que sejam destruídos os motivos das guerras: a ambição do poder e a avidez do dinheiro, a cobiça de quem comercia armas, os interesses de lucro e as vinganças do passado. É preciso remover as causas que estão por trás dos conflitos: a situação de pobreza, a injustiça e as desigualdades sociais, a exploração e o desprezo da vida humana.

Abra-se finalmente um novo tempo, no qual o mundo globalizado se torne uma família de povos. Tome-se a responsabilidade de construir uma paz verdadeira, atenta às necessidades autênticas das pessoas e dos povos. É preciso prevenir os conflitos com a colaboração que vença os ódios e supere as barreiras com o encontro e o diálogo. Quando se pratica o diálogo, nada é perdido. Nada é impossível quando nos voltamos para Deus na oração. Todos podem ser artesãos da paz. Daqui de Assis, renovamos com convicção o nosso compromisso de sermos isso (artesãos da paz), com a ajuda de Deus e junto com todos os homens e mulheres de boa vontade.

          Assis, 20 de setembro de 2016

          Seguem as assinaturas dos 500 representantes de diversas tradições religiosas[1].


[1] - Cf. AVVENIRE, 21 settembre 2016, p. 4.

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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