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Mosteiro da aliança da humanidade

Mosteiro da aliança da humanidade

             Em meio às colinas que cercam a cidade de Verona, no norte da Itália, há um antigo mosteiro dos religiosos estigmatinos. Atualmente chama-se “Mosteiro dos Bens Comuns”. É um espaço de encontro de movimentos sociais italianos. Há anos, ali funciona a “Universidade dos Bens Comuns”. Ali ao lado da pequena comunidade de quatro religiosos, sempre se encontram ativistas da paz e militantes pela ecologia e pelos direitos humanos. 

A partir dessa quinta feira e até domingo (de 13 a 16 de dezembro), nesse mosteiro, estão reunidos mais de 250 homens e mulheres, adultos e jovens, vindos de todos os continentes. Crentes de diversos caminhos espirituais e também pessoas de boa vontade sem nenhuma pertença religiosa. Todos/as celebram os 70 anos da Declaração da ONU sobre os Direitos Humanos pondo em prática o costume da antiga Grécia da Ágora – espaço de discussão democrática e de encontro. Só que dessa vez se trata de uma Ágora dos/das Habitantes da Terra. 

Há quase 15 dias estou na Itália, especialmente no norte do país. Chego agora no Mosteiro de Sezano (é o nome do distrito no qual se situa). É um lugar onde já estive várias vezes. Inclusive, no ano passado (março de 2017), quando saí do hospital depois da cirurgia que fiz no fêmur fraturado, foi a pequena comunidade desse Mosteiro que me recebeu e me hospedou durante uma semana. Agora estou voltando para a Ágora. A coordenação internacional colocou meu nome como referência entre os coordenadores/as. Do Brasil penso que seremos umas dez pessoas, sendo que quatro vieram do grupo da Ágora de Belo Horizonte e Betim e três do Rio de Janeiro. O grupo de Salvador (Ba) não pôde vir por causa de uma doença imprevista do seu coordenador.  Entre nós, brasileiros/as, a metade é de jovens entre 20 e 30 anos, o que é um sinal de esperança e alegria para todos nós. 

Nesse mundo, se voltam a levantar muros e barreiras. Escutam-se declarações racistas e xenófobas. Os poderosos querem mercantilizar a Terra, a água e a própria vida (humana e a de todos os seres vivos). Por isso, é urgente uma nova aliança da humanidade em favor da vida e para construir as bases novas de outra forma de organizar a sociedade. A proposta é fazer isso a partir das comunidades pobres e dos movimentos sociais organizados. Nesse encontro se tentará por em comum um trabalho desde um ano já feito pelos diversos grupos locais e regionais. Deseja-se elaborar juntos uma Carta da Humanidade pela Vida que aprofundará e continuará a declaração dos direitos humanos e a Carta da Terra (de 2000). Os participantes se darão uma Carteira de identidade de habitantes da Terra. É um gesto simbólico, mas algumas cidades, duas da Argentina, duas ou três da Itália e parece que uma da Tunísia estão dando essa carteira a todas as pessoas que quiserem e em um gesto simbólico de quebrar os nacionalismos e os preconceitos contra os migrantes. Esse encontro tentará construir as bases para uma futura OHMU, Organização Mundial da Humanidade. 

Agradeço a Deus o fato desse encontro estar sendo acolhido e mesmo organizado em um mosteiro católico. O termo grego católico significa literalmente aberto ao mundo e como algo universal. No entanto, infelizmente as Igrejas cristãs continuam muito centradas em si mesmas. Parecem pouco sensíveis a esse apelo divino da união de toda a humanidade. Quem, pelo momento, está dando a vida por isso são pessoas leigas e o fazem como expressão de fé na vida e na humanidade. De fato, quem acredita na vida e na humanidade, testemunha um Amor Divino que está presente em nós e nos acompanha na aventura do Bem-viver. 

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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