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Conversa, segunda feira, 28 de dezembro 2015

Nesses dias, fui convidado aqui e ali para um culto de ação de graças de final de ano ou simplesmente para alguma oração ou celebração natalina. Senti mais do que nunca a dificuldade de falar do Natal. De um lado, sinto que nenhuma palavra consegue traduzir a emoção que toma conta de mim e da maioria das pessoas, mesmo se muitas nem se tocam da profundidade do mistério que estamos celebrando... Para muita gente, é simplesmente como um aniversário do menino Jesus. Mas, lá no fundo do coração sentem, de alguma forma que há algo de novo e de diferente. Há algo de oculto e de cuidadosamente guardado no espaço mais íntimo que é a própria consciência, o lugar onde não se pode mentir a si mesmo.

Ali dentro, há como um quarto secreto, uma espécie de cápsula espacial (não pensem que eu tenha ido ver Stars War. Apesar de gostar muito de cinema, não fui). Ali naquele recôndito último do ser, cada um pode colher um pouco de luz, algo de doçura e ternura, uma alegria difícil de expressar... Quase um ar de criança... O gosto da vida, a alegria das relações que nos unem às pessoas, o prazer do corpo, a profundidade de cada desejo... em uma palavra, a experiência de conviver, de amar, esperar, lutar a favor da vida dos outros e até da gente mesmo...

De fato, no Natal, Deus se revela no corpo de uma pessoa humana, Jesus e se revela como amor. E assim como uma criancinha pequena que acaba de nascer depende totalmente dos pais, ele quis depender de nós... de nossa fragilidade...

Hoje, pela manhã, lendo o evangelho com minha irmã, Penha, ela reagiu dizendo: Mas que crueldade sem limites. Matar todas as criancinhas de dois anos abaixo... E eu tentei explicar que aquela história da matança dos inocentes é uma parábola inspirada no Êxodo em que o faraó manda matar os filhos dos hebreus... Tentei explicar que historicamente Belém era uma aldeiazinha de nada e que mesmo que Herodes mandasse matar "todas" as crianças de menos de dois anos, iria encontrar duas ou três... ou nenhuma. Mas, o evangelho conta essa parábola para mostrar que desde o seu nascimento, Jesus acarreta a oposição dos poderosos que se sentem ameaçados. Um antigo hino da Epifania que eu cantava nos ofícios do mosteiro de Olinda diz: "Por que Herodes temes o novo rei que nasceu? Ele não rouba os reinos da terra, já que é rei dos céus". Muita alienação. Herodes teria sido menos alienado, já que teria compreendido desde o começo que o reino de Deus rouba sim os reinos da terra, assim como Maria profetizou: Ele derruba os poderosos de seus tronos e eleva os humildes....

A ternura e doçura do Natal são proféticas e têm conseqüências sociais subversivas e profundas... 

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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