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Celebrar a Criação no Hoje do Universo

                     O dia 1 de setembro marca no hemisfério norte o começo do ano letivo e das atividades profissionais, depois do agosto que é sempre mês de férias na Europa e na América do Norte. No Judaísmo, nesses dias, (final de agosto e começo de setembro), as comunidades judaicas entram no ano 5778 do seu calendário . Mesmo sabendo que é simbólico, consideram que agora começou o 5778 ano da criação do mundo e festejam o Rosh Hashanah, a festa do ano novo judaico que lembra a renovação do universo sempre vivida pelo amor divino, presente e atuante no universo. 

                    Desde os anos 70, os cristãos ortodoxos, em sua liturgia, em comunhão com o Judaísmo consagram o 1 de setembro à contemplação e ao cuidado com a Criação. Portanto é uma celebração que une cristãos de várias Igrejas (orientais) e as comunidades das sinagogas. Em agosto de 2015, o papa Francisco propôs que toda a Igreja Católica assumisse essa celebração no dia 1 de setembro, ou no domingo mais próximo. Ele instituiu na Liturgia Católica o Dia de Oração pelo Cuidado com a Criação. Apesar da carta do papa ter chegado a todas as dioceses do mundo, a maioria dos bispos não deu uma palavra sobre isso, quase nenhuma diocese tomou nenhuma iniciativa. Na maioria dos lugares, a data passa em silêncio. 

                   De fato, na história de nossa Igreja, a teologia e a espiritualidade, assim como a Liturgia têm acentuado sempre e muito mais a redenção. Como se a Criação fosse algo passado. No começo de tudo, Deus criou o mundo e pronto. Agora, a redenção é que se torna atual. Uma antiga e bela oração do Natal diz claro: "Ó Deus que, de modo admirável, criaste o ser humano, de um modo mais maravilhoso ainda o redimiste pela vinda de Jesus...". Atualmente, a Teologia mais nova procura não separar mais essas duas dimensões da nossa salvação. A mesma ação amorosa de Deus nos criou, nos cria a cada instante e nos salva. Ao contemplar a criação divina na natureza, já estamos vivendo a sua salvação. Olhamos cada criatura como sinal e instrumento da bênção divina. 

                       Nesse dia 1 de setembro, celebramos esse dia de oração e cuidado com a Terra, muito aflitos com o que está acontecendo com o Brasil. O governo de bandidos que se apossou do poder e atualmente governa o país está entregando a terra e todas as nossas riquezas às empresas multinacionais e à propriedade privada. Nesses dias, Temer assinou um decreto extinguindo a RENCA, a Reserva que embora fosse para a preservação do Cobre e outros minerais na Amazônia, servia para proteger a floresta, a vida na Amazônia. Atualmente o presidente extinguiu a reserva e assinou o contrato com diversas empresas de mineração para a exploração e destruição da floresta. É uma área equivalente a todo o estado do Espírito Santo, ou se preferirem, é do tamanho da Dinamarca. Fica em parte do Amapá e do Pará. Abriga vários povos indígenas e comunidades tradicionais. Parece que ele teve de fazer isso para pagar à bancada ruralista e aos congressistas eleitos pelas mineradoras os votos que teve de comprar para, depois de todas as provas de corrupção e desonestidade que cometeu, poder manter-se no governo. 

                         A reação da sociedade civil provocou que o presidente anulou o primeiro decreto e fez outro, mas mantendo a extinção da reserva. O PSOL impetrou um mandato contra o decreto. Um juiz o anulou e o Ministério Público Federal denunciou que a decisão de Temer equivale a quatro anos de destruição permanente da floresta amazônica. O decreto foi anulado, mas a sanha destruidora desse governo continua e parece que até 2018, ele tem pressa em vender o país e tudo o que possa por aqui ser tirado do povo. 

                         É importante que no 23o Grito dos Excluídos, o tema "A vida em primeiro lugar" possa contemplar essa atenção à Amazônia, à proteção de nossos rios e o cuidado com toda a natureza. Como dádiva na qual todo ser humano se insere. É responsabilidade ética de toda pessoa e para quem crê, tudo isso e nós mesmos somos parte da criação amorosa de Deus. 

  

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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