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As portas fechadas que não fecham nada

                 Nesse 2o Domingo da Páscoa, o evangelho lido hoje nas Igrejas (João 20, 19- 31) revela que todas as vezes que nos reunimos no nome de Jesus refazemos e atualizamos aquele encontro dos discípulos com o Ressuscitado. Hoje vivemos ainda em salas fechadas e temos motivos de ter medo. Apesar de tantas conquistas técnicas e científicas e apesar dos avanços no plano da comunicação, o mundo atual parece mais inóspito e menos humano do que aquele no qual nasci há mais de 70 anos. O Brasil dá ao mundo a imagem do ódio e da violência que as televisões do mundo inteiro mostraram ontem. E o país assiste como que impotente à prisão injusta e claramente ilegal de um cidadão, símbolo de esperança para tanta gente. No entanto, o evangelho diz que, mesmo se as portas estavam fechadas, Jesus se deixou ver pelos discípulos e lhes trouxe a Paz, a alegria e a reconciliação para iniciar uma nova missão. 

                   O que Jesus lhes mostra em primeiro lugar são suas chagas. Jesus é o curador ferido. O que o Ressuscitado traz não é um corpo glorioso e etéreo, mas as chagas da cruz. Assume suas chagas e deixa que sejam vistas. É quando assumimos nossas chagas que podemos receber o perdão do Ressuscitado e nos tornamos anunciadores/as do perdão divino para os outros. E assim essas chagas, do Ressuscitado e as nossas, se tornam como que luminosas. E ao reconhecer Jesus vivo nas pessoas feridas e que resistem, os discípulos se enchem de uma imensa alegria, como a alegria que Jesus havia prometido na ceia quando disse: "Hei de ver vocês outra vez e vocês se encherão de uma alegria tal que ninguém poderá tirar de vocês essa alegria" (Jo 16, 20).   

                  Hoje é o oitavo dia, o dia novo, o primeiro de uma nova história. Como Tomé, também nós não estávamos no primeiro dia, mas a ressurreição de Jesus se renova para nós hoje. Como Tomé, nós não vimos com nossos olhos, mas podemos tocar nas chagas do Ressuscitado nas pessoas feridas pelas injustiças da vida com as quais nos solidarizamos e com as quais estamos em comunhão. 

                  Quando na história Gandhi foi preso e condenado pelo império, muita gente no mundo inteiro comemorou a prisão. Quando Martin-Luther King foi condenado, mesmo no meio do povo negro, houve grupos que festejaram. Um teólogo amigo me contou angustiado que na cidade de El Salvador, em um colégio católico de classe média, na noite do dia 24 de março de 1980, um grande grupo de moças faziam festa e comemorando felizes o assassinato  de Dom Oscar Romero, arcebispo, que acabava de acontecer em uma capela de hospital da cidade. Os guardas do templo e os funcionários dos palácios de Jerusalém e mesmo pessoas do povo alienadas pela propaganda enganosa dos grandes comemoraram a morte de Jesus. De todo modo, o testemunho do Ressuscitado ferido mas vivo, é a Paz e a Alegria mesmo no meio das dores. É nossa força na luta. 

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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