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Artigo semanal, segunda feira, 16 de novembro 2015

Novo pacto das catacumbas

Celebramos hoje o cinquentenário do Pacto das Catacumbas. No mundo inteiro, em muitas Igrejas, se fazem eventos e vigílias para comemorar os 50 anos do famoso documento assinado por mais de 40 bispos católicos de todo o mundo. No dia 16 de novembro de 1965, se reuniram em Roma e assinaram um documento no qual se comprometiam a se tornar  pobres, solidários com os pobres e a serviço dos mais pobres. Chamou-se esse documento de “Pacto das Catacumbas” porque foi assinado após uma celebração feita nas Catacumbas de Santa Domitila, local da periferia de Roma que a tradição cristã considera como cemitério de mártires cristãos dos primeiros séculos. Esse documento foi muito importante por ter vindo à luz, quando faltavam apenas três semanas para o encerramento do Concílio Vaticano II, no qual participavam os bispos que assinaram aquele texto. Foi a primeira consequência concreta do Concílio e da novidade que ele trazia para a Igreja e para o mundo.

Todos sabem que, até o Concílio Vaticano II, os bispos eram considerados “príncipes da Igreja”. A maioria se apresentava com roupas pomposas e ornamentos de ouro. Cada bispo tinha o seu “palácio episcopal”. Os bispos que assinaram o pacto decidiram morar em casas simples, serem pessoas acessíveis aos mais pobres e a serviço da justiça e da paz.

Nos dias seguintes à assinatura do Pacto, mais de 500 bispos quiseram também assinar e assumiram o Concílio como caminho de conversão e de compromisso pessoal com os pobres, seus sofrimentos, suas necessidades, suas lutas e esperanças. Assumem o propósito de ser pastores identificados com seu rebanho e querem que sua Igreja seja servidora e pobre. Esse sonho e esse compromisso de uma Igreja que buscava renovar-se, espelhando-se no Evangelho e no seguimento de Jesus, já estavam no coração e nos propósitos do papa João XXIII que sempre voltava a essa preocupação: “A  Igreja deve ser de todos e particularmente dos pobres”.

Atualmente, 50 anos depois do Concílio e da assinatura do “Pacto das Catacumbas”, o papa Francisco propõe uma Igreja “em saída”, isso é, voltada para fora de si mesma e não para dentro. O próprio papa tem assumido uma postura permanente de simplicidade e de compromisso com as causas sociais.  De fato, na América Latina, a Teologia da Libertação insiste que a pobreza em si é um mal, provocado pelas desigualdades sociais injustas e pela ambição humana. Por isso, a opção da Igreja deve ser pelos pobres e junto com os pobres, mas contra a pobreza injusta. A Igreja deve se colocar como uma Igreja pobre, inserida no meio dos pobres, para apoiá-los na sua luta pela libertação e por  justiça. Já em duas ocasiões diferentes, o papa Francisco reuniu representantes de movimentos sociais e se colocou como apoiador de sua causa. Nessas ocasiões, ele afirmou que toda pessoa humana deve ter direito aos três T: terra, trabalho e teto. Esse compromisso com os mais pobres assume também o cuidado com a nossa casa comum: a Terra e a natureza que a envolve.

Nesses 50 anos do Concílio Vaticano II e do Pacto das Catacumbas, as comunidades recordam esses eventos para atualizá-los. Nas últimas décadas, a situação social do mundo não parece melhor nem menos injusta do que antes. Ao contrário, as desigualdades sociais aumentaram, a cultura da indiferença em relação aos mais pobres se universalizou. Guerras e violências cometidas em nome do lucro e da ambição humana têm provocado uma onda de migrantes de refugiados como nunca houve na história. Por isso, o compromisso pela justiça e pela paz, a partir dos pequenos, como pede o evangelho de Jesus, deve ser assumido não somente por bispos e padres, mas por todas as pessoas de boa vontade que, religiosas ou não, querem construir um novo mundo possível.

Nesse dia do Pacto das Catacumbas, agradeço a Deus o pacto de amor e solidariedade que nosso irmão e mestre espiritual padre João Pubben fez nesse mesmo dia com o Brasil. No dia 16 de novembro de 1965, ele começou sua viagem para realizar sua missão no Brasil, onde por 50 anos, ele fez tanto bem e continua ainda a fazer. Deus o abençoe e o fortaleça sempre com todas as bênçãos e luzes do Espírito. 

Gostaria ainda de partilhar com vocês a mensagem que hoje recebi do nosso irmão e mestre Eduardo Hoornaert:

Celebramos hoje, 16/11/2015, o cinquentenário do Pacto das Catacumbas, assinado em Roma por cerca de 40 bispos participantes do Concílio Vaticano II. Minha intenção, ao redigir três textos sobre esse Pacto, consiste em mostrar como esse Pacto foi realizado por Helder Câmara em Recife no ano 1968 e como pode ser realizado nos dias de hoje, de forma atualizada. 

Coloquei os textos no meu blog que você acessa por google.com, discando www.eduardohoornaert.blogspot.com

Precisa ler os primeiros quatro textos que aparecem na lista de forma inversa, ou seja, começando pelo quarto e assim regredindo, da maneira seguinte:

- Como foi o Pacto das Catacumbas em Roma no dia 16 de novembro de 1965?

- Como Helder Câmara realizou o Pacto das Catacumbas em Recife no ano 1968?

- O Pacto das Catacumbas hoje.

- O papa Francisco, um homem universal.

Acrescentei esse último texto porque o Pacto das Catacumbas tem um valor universal, não se restringe só à Igreja católica nem ao cristianismo nem, a rigor, a nenhuma instituição religiosa. É um Pacto que visa o mundo inteiro e desse modo entra na linha em que o papa Francisco procura orientar a Igreja hoje.

Espero que você goste de meus textos,

Eduardo. 

Marcelo Barros

Camaragibe, Pernambuco, Brazil

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

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